A prática da atenção plena tem como objetivo estimular as pessoas a fazerem uma pausa durante
o dia para que possam
esvaziar a mente e não pensar
em nada além do momento
presente. iStock/Getty Images
O resultado mostrou
que a técnica é tão eflciente no tratamento das dores quanto a terapia
atualmente recomendada por proflssionais de saúde
Por Redação 1 fev
2019, 16h15
A
técnica da atenção plena
ou mindfulness está
cada vez mais popular
ao redor do mundo.
Por ser uma forma de meditação, traz
benefícios para o bem-estar
mental, promovendo o controle do stress, por exemplo e físico, como mostra um estudo pulicado recentemente no periódico científlco BMJ Evidence-Based
Mental Health. Pesquisadores do Hospital Ottawa,
no Canadá, concluíram que a prática serve como uma analgésico natural contra dores crônicas e pode ser um
alternativa promissora à terapia
cognitivo-comportamental (TCC), um dos tratamentos mais prescritos por
proflssionais de saúde para pacientes que sofrem com o problema.
De
acordo com os pesquisadores, nem todos os pacientes experimentam uma resposta signiflcativa ao tratamento com
TCC e, portanto, necessitam de outra forma de tratar a doença. “A atenção
plena mostrou-se promissora na melhora da intensidade e na redução
da dor e de distúrbios psicológicos”, aflrmou
Wei Cheng, do Hospital Ottawa,
no Canadá.
Indivíduos com dor crônica
sofrem com dores
diárias – ou quase – ao longo
de seis meses ou mais. Algumas pessoas chegam a experimentar dores tão
intensas capazes de atrapalhar as atividades do dia a dia. Além
disso, por afetar o bem estar do paciente, a doença
ainda causa impacto psicológico muito forte.
Eflcácia da
meditação
A
equipe canadense descobriu os benefícios da atenção plena
depois de revisar 21 estudos envolvendo quase 2.000 participantes
(principalmente mulheres) com idade entre 35 e 65 anos. A maioria dos estudos
revisados avaliaram participantes que sofriam com dor musculoesquelética, como flbromialgia, dor lombar crônica, artrite reumatoide e osteoartrite. Esses
pacientes foram submetidos à terapia cognitivo-comportamental ou redução de stress baseado em atenção plena (MBSR,
na sigla em inglês).
Para obter um resultado mais
assertivo, ainda foram examinadas
evidências diretas e indiretas da eflcácia da TCC em comparação com tratamentos padrões ou sem qualquer tratamento; do MBSR em relação aos tratamentos padrões
ou sem qualquer tratamento; e, por
último, TCC versus
MBSR.
Os resultados mostraram que tanto a
atenção plena quanto a terapia comportamental são eflcientes na melhora do
funcionamento físico, na promoção do alívio de dores e na redução de condições
associadas, como depressão. “Esta
revisão sugere que a redução
de stress baseada
em atenção plena oferece
outra intervenção potencialmente útil para o manejo de dores
crônicas”, comentou Eve-Ling Khoo,
co-autora da revisão, no estudo.
No entanto, os cientistas ressaltaram
que, como apenas um dos estudos
comparou diretamente TCC e atenção
plena, são necessárias mais pesquisas para determinar se a prática
da meditação pode promover alívio
em pacientes com dores
e sintomas psicológicos distintos.
Atenção plena
A
prática da atenção
plena tem como
objetivo estimular as pessoas a fazerem
uma pausa durante o dia para que possam esvaziar a mente e não pensar em nada
além do momento presente. Segundo o site Mind, a
técnica busca encorajar o indivíduo a prestar mais atenção ao que está
acontecendo no momento presente (corpo, mente
e entorno). Assim
é possível captar
qualquer pensamento que entre ou saia da mente, o que ajuda
na compreensão de si e das próprias emoções.
De
acordo com Sharon
Hadley, presidente do Oxford
Mindfulness Centre, na Inglaterra, a atenção plena
pode gerar impacto
positivo no bem-estar geral ao ajudar a tornar o indivíduo mais
consciente de pensamentos, sentimentos e do ambiente ao seu redor. “Essa
capacidade de prestar
atenção, de perceber
o que está acontecendo no momento presente
e aumentar a capacidade de escolher
como ou se devemos responder aos nossos pensamentos e/ou sentimentos se mostrou benéflca para aqueles que sofrem tanto
mental quanto flsicamente”,
explicou ao Independent.
Diversos estudos comprovaram que
praticar a atenção plena pode melhorar diversos aspectos da nossa
vida, inclusive melhorar a relação com a comida, aliviar o vício em celulares, aumentar a conflança do corpo e
beneflciar até mesmo a vida sexual. Outra pesquisa ainda
descobriu que a técnica auxilia
no tratamento de uma série de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e
stress. Já o Instituto Nacional de Saúde e Excelência em Cuidados
do Reino Unido (NICE, na sigla em inglês) recomenda o uso da atenção plena para controlar a ansiedade
social.
Críticas
Apesar dos inúmeros benefícios conflrmados pela ciência, alguns estudiosos
aflrmam que a técnica da atenção plena
pode ter um lado ruim.
Uma pesquisa de 2017 realizada pela Universidade Brown, nos Estados
Unidos, aflrma
que esse tipo de meditação só funciona em mulheres. Os homens estariam
mais propensos a ignorar preocupações, o que lhes permite estar sempre
concentrados no presente
e, portanto, não necessitam da técnica.
Ainda há quem diga que utilizar a
atenção plena sozinho pode provocar egoísmo, já que esse tempo voltado para si
pode tornar o indivíduo mais centrado em si mesmo. “A espiritualidade pode se tornar
interior e egoísta”,
comentou Alison Gray, psiquiatra do Royal College de Psiquiatras, ao
The
Independent.
texto original
https://veja.abril.com.br/saude/dor-cronica-mindfulness-funciona-como-analgesico-natural-revela-estudo/