Nossos leitores perguntaram e a nutricionista Simone Getz respondeu. Confira a relação entre alimentação e fibromialgia.
Recentemente fizemos uma enquete aqui no Ufa! Chega de Dor com dúvidas enviadas por nossos leitores. A pergunta que recebeu mais votos foi “alimentos anti-inflamatórios ajudam a controlar as dores da fibromialgia?”. Para responder à pergunta e tirar todas as dúvidas sobre a influência dos alimentos sobre as dores da fibromialgia, convidamos a nutricionista Simone Getz, de São Paulo. As respostas, você confere a seguir:
Estão em voga os alimentos que controlam a inflamação. Um exemplo é o boom da dieta mediterrânea para pacientes cardíacos. No caso da fibromialgia, há comprovações científicas de que uma dieta anti-inflamatória pode ajudar a controlar os sintomas?
Apesar de a fibromialgia não ser uma doença inflamatória, ela é uma patologia com dor muscular generalizada, que vai necessitar de controle ao longo de toda vida. Nesse sentido, uma alimentação que contribua para diminuir o status inflamatório e que seja equilibrada, no sentido de ser rica em nutrientes, será benéfica.
Por quê há benefícios em uma dieta anti-inflamatória para fibromiálgicos?
Indivíduos com fibromialgia apresentam normalmente maior nível de estresse oxidativo, ou seja, há uma maior produção de radicais livres e uma atuação insuficiente do sistema antioxidante do organismo em neutralizá-los. Para reduzir o estresse oxidativo, é preciso aumentar o aporte de nutrientes antioxidantes e reduzir outros que têm características inflamatórias, associados inclusive à maior sensação de dor.
Como isso pode ser feito por meio da alimentação?
Nesse caso, por meio da redução da ingestão de gorduras pró-inflamatórias, como a gordura saturada da carne vermelha, dos laticínios integrais e frituras. Essas gorduras são muito ricas em ácido araquidônico, um ácido graxo da série ômega-6 com um alto potencial de produção de substâncias inflamatórias no organismo. Por outro lado, vale aumentar o consumo de gorduras poli-insaturadas que têm efeito contrário e agem justamente modulando as inflamações e a dor. Um exemplo é o ômega-3. Algumas fontes de ômega-3 são a sardinha, o atum, o salmão, o arenque ou o linguado. Há também a opção de se usar suplementos para elevar os níveis desta gordura no corpo.
Além das gorduras, há outras maneiras de ajudar a controlar as dores da fibromialgia?
Pensando em outros pontos da alimentação, há pesquisas mostrando que uma dieta rica em antioxidantes é benéfica. Essa ação antioxidante pode ser obtida por meio de alguns nutrientes como a vitamina C, a vitamina E, o selênio, o zinco, o resveratrol (suco de uva tinto) e as catequinas (presentes no chá verde). Hoje também já se sabe que níveis muito baixos de vitamina D estão associados à fibromialgia, portanto, é importante dosar o nível dessa vitamina no sangue.
Na internet há listas intermináveis de alimentos que devem ser evitados: café, açúcar, adoçantes… O que realmente deve ser cortado?
Uma alimentação equilibrada e variada vai melhorar o estado nutricional do paciente e, consequentemente, fortalecer o organismo. Entretanto, cada paciente é único e apresenta diferentes sintomas, associados à fibromialgia. Por exemplo, aqueles pacientes que têm síndrome do intestino irritável e apresentam mais episódios de diarreia devem reduzir a ingestão de alimentos flatulentos e ricos em fibras, assim como priorizar laticínios sem lactose. Já no caso dos pacientes que dormem muito mal e tem muita alteração de humor, vale a pena aumentar alimentos ricos em triptofano, como a banana com aveia, o salmão, o grão-de-bico e a semente de girassol. O triptofano contribui para a adequada formação de serotonina, hormônio associado ao bem-estar. Além disso, sabe-se que os pacientes obesos têm mais episódios de dor, sendo assim, normalizar o peso é algo bem importante. Pesquisas mostram que a perda de peso diminui a severidade da dor, além de melhorar o sono e os quadros de depressão associados.
Há ainda duas substâncias que o paciente pode tentar retirar e avaliar se há melhora dos sintomas e da severidade da dor. São elas o glúten e o glutamato monossódico, este último, presente em alimentos industrializados e no molho shoyu. As pesquisas ainda são inconclusivas, mas individualmente vale testar. No caso do glúten, a pessoa pode ter sensibilidade mesmo sem apresentar a doença celíaca.
E o que pode ser incluído?
No geral, é preciso tornar a dieta mais antioxidante e menos inflamatória. Isso pode ser obtido por meio da redução do consumo de carne vermelha, que pode ser substituída por outras proteínas, sejam elas animais, como frango, ovos e peixes, ou vegetais, como feijão, ervilha, lentilha e grão-de-bico. Como disse anteriormente, também é benéfica a inclusão de gorduras poli-insaturadas, ricas em ômega-3. Isso pode ser feito com a maior ingestão de peixes como a sardinha, o arenque e o salmão. Também é importante comer verduras e legumes todos os dias, no almoço e no jantar, assim como consumir frutas variadas ao longo do dia. Uma última dica que daria é sobre a inclusão de oleaginosas, como a castanha do pará ou de caju, as amêndoas, as avelãs e as sementes de gergelim, girassol ou abóbora. Elas podem ser consumidas durante o dia, entre as refeições, ou sobre a salada.
Horários de alimentação também influenciam? Por exemplo, ficar sem comer por tempos longos, pode influenciar de alguma maneira a sensação de dor?
Fazer um bom café da manhã, não pular refeições e comer a cada três horas são hábitos saudáveis, que pautam uma alimentação equilibrada. Vale uma última informação: a hipo-hidratação (falta de água no organismo) pode aumentar a percepção da dor. Por isso, hidratar-se bem ao longo do dia é fundamental.
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Simone Getz é nutricionista graduada pela Faculdade de Saúde Pública da USP, pós-graduada em Saúde da Mulher no Climatério, Nutrição Clínica e Ortomolecular, e Fitoterapia.