10/02/2020 10h34 - Por: Cristina Nunes
Sentir dor por todo o corpo por mais de três meses, dormir e acordar mais cansado do que quando deitou, fazer vários exames e não encontrar nenhuma alteração no corpo que aponte o motivo da dor que não passa. Parece ser uma situação bem complicada, concorda? Esses são alguns dos motivos que fazem com que essa doença reumática tenha correlação com a depressão.
Uma grande porcentagem de pacientes com fibromialgia também sofrem com a dor da alma. Um estudo brasileiro apontou que 2,5% da população sofre com a síndrome, sendo a maioria do sexo feminino, das quais 40,8% pertencem a faixa etária dos 35 aos 44 anos de idade. Já em alguns países da Europa os índices de Fibromialgia chegam até 10,5% na população adulta.
A psicóloga Janaina Souto, mestre em psicologia da saúde (Unesp) e especialista em análise comportamental (USP) explica que a fibromialgia e a depressão caminham juntas. "Não há nenhum estudo que comprove que pacientes com fibromialgia vão necessariamente desenvolver quadro de depressão, porém sintomas característicos da síndrome, como o distúrbio no sono, ansiedade, dificuldade de memória, tensão, nervosismo, por exemplo, podem ir levando a pessoa a frustração, ou até mesmo a vitimização, onde a pessoa acredita que por causa da doença é uma incapaz. É nessa situação que pode ocorrer a depressão", explica.
A médica Mariana Picolli ressalta que "sintomas depressivos são altamente prevalentes sendo encontrados em 90% dos pacientes ao longo da vida. Apesar da associação, a fibromialgia não é considerada uma causa de depressão".
"A fibromialgia é uma condição clínica crônica na qual existe dor musculoesquelética difusa associado à sono não reparador (a pessoa acorda cansada), fadiga(cansaço) e distúrbios cognitivos. Outros sintomas como distúrbios de memória, ansiedade, depressão e alterações intestinais podem estar presentes", explicou a médica.
A psicóloga destaca dois fatores, que de acordo com estudos ajudam no desencadeamento da Fibromialgia: um trauma psicológico ou um intenso stress. " Esses dois acontecimentos também podem anteceder uma depressão", ressaltou Janaina. A especialista afirma que o tratamento da fibromialgia deve ser multidisciplinar. "Reumatologista, educador físico, psicólogo, fisioterapeuta são auxílios profissionais muito relevantes para o paciente", acrescentou.
"É fundamental o acompanhamento psicológico, pois são doenças que caminham juntas e a depressão, quando não tratada, leva ao suicídio". A psicóloga explica que o tratamento psicológico é feito individualmente ou em grupo. "Trabalhamos técnicas como relaxamento, enfrentamento da doença e resiliência (percepção x expectativa)".
Janaina é paciente diagnosticada com fibromialgia e revelou que um dos motivos que fez ela escolher o curso de psicologia foi a necessidade que tinha de entender as dores. "Eu sentia dores no corpo desde criança, queria entender a dor", argumentou. Atualmente a psicóloga teve que reorganizar a sua rotina de trabalho por causa do tratamento. "O paciente tem que ser ativo, desde a primeira consulta até o controle da doença", destacou.
A psicóloga aponta ainda que outras doenças reumáticas podem afetar o emocional dos pacientes. "A artrite reumatóide em estado avançado pode provocar deformidades; o lúpus obrigada o paciente a não tomar sol, são fatores que acabam afetando a autoestima, principalmente das mulheres que são as mais acometidas por essas patologias", explicou Janaina.
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