Já que a medicina integrativa usa todas as terapias com comprovação científica em prol do bem-estar do paciente, seria ela uma medicina também alternativa?
A confusão com os termos é comum e, por isso, antes de prosseguirmos é importante fazermos duas definições. Definimos medicina alternativa como aquela que preconiza terapias que excluem o tratamento convencional. Por exemplo, o uso de um fitoterápico em substituição à quimioterapia para tratar um tumor. A medicina complementar por sua vez usa terapias e orientações médicas que, como o próprio nome enfatiza, são complementares ao tratamento convencional. No mesmo exemplo, seria o uso da acupuntura para diminuir as náuseas provocadas pela quimioterapia. E é nessa segunda definição que se enquadra a abordagem preconizada pela medicina integrativa.
O propósito é integrar. Juntos, médico e paciente traçam um plano de sobrevivência e busca de bem-estar, mesmo nos quadros mais graves. Para que isso seja possível, é necessário que o médico esteja apto para validar as práticas já trazidas pelo paciente, estimulando o diálogo e fornecendo dados científicos embasados para isso, abrindo espaço, inclusive, para discutir uma possível associação com o tratamento convencional. O entendimento principal é de que terapias que podem ser recomendadas são as que têm evidências de sua eficácia e segurança, como a prática de meditação. As que podem ser aceitas são aquelas com segurança comprovada por pesquisas, mas com eficácia ainda não indicada, por exemplo, sessões de shiatsu. Práticas comprovadamente perigosas e ineficazes, como a associação de alguns fitoterápicos, devem ser desencorajadas e suspensas.
Essa abertura é muito importante para que as opções complementares sejam usadas a favor dos pacientes, que em momentos de fragilidade tendem a aderir a tratamentos sem relatarem a seus médicos. Pesquisas mostram que boa parte dos pacientes oncológicos brasileiros usa práticas complementares ao tratamento convencional. Os dados são alinhados com os americanos - e provavelmente com os do resto do mundo ociental. Trabalho feito no Centro de Medicina Integrativa do Memorial Sloan Kettering Center, em Nova York, publicado na revista científica Oncologist revela que 69% a 80% dos pacientes com câncer usam fitoterápicos, suplementos vitamínicos, orientações nutricionais e acupuntura, entre outros. Cerca de 70% deles não relataram o uso aos seus médicos - inclusive pelo fato de eles não abordarem o tema em suas consultas.
A crescente busca por essas opções está relacionada à redução de efeitos colaterais das drogas, com a sensação de autocuidado e controle no tratamento, com a busca do aumento de bem-estar e qualidade de vida, maximizando a resposta do corpo ao tratamento. Sensações de medo, depressão e ansiedade também são mais bem trabalhadas com auxílio de terapias complementares. Além disso, doenças antes associadas à morte hoje são vivenciadas como crônicas, que nem por isso deixam de provocar incômodos ou limitações, e levam os pacientes a buscas que os ajudem a conviver melhor com seus sintomas.
Uma iniciativa interessante está em curso no Beth Israel Medical Center, em Nova York (EUA), patrocinada pela Fundação Dona Karan. Professores de ioga foram convocados para darem aulas para pacientes oncológicos e enfermeiras estão aprendendo técnicas de relaxamento. Os pacientes estão sendo acompanhados para que seja possível avaliar se a prática da ioga reduz sintomas clássicos do câncer e da quimioterapia, como dores, náusea e ansiedade. Experimentos e iniciativas do tipo estão sendo adotadas com sucesso e custos reduzidos em hospitais e unidades de saúde em várias partes do mundo. Em São Paulo mesmo, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) pesquisa há anos, com resultados bastante animadores, a influência da meditação e das técnicas de biofeedback em transtornos de ansiedade e distúrbios alimentares.
O Hospital Israelita Albert Einstein também tem levado a medicina integrativa a pacientes que convivem com o câncer. As ações do tipo têm sido chamadas de intervenções em estilo de vida.
Razões que estimulam pessoas com câncer a utilizar terapias complementares
- Auxilio no tratamento dos efeitos colaterais aos tratamentos de câncer, como náusea, dor e fadiga
- Obtenção de conforto e alívio das aflições decorrentes do tratamento, e conseqüente estresse
- Sensação de estar fazendo "algo mais" por si mesmo
- Tentativa de conseguir o melhor para o tratamento e a cura do câncer
Fazendo escolhas
É natural ao ser humano o desejo de lutar contra o câncer de todas as maneiras possíveis. Existe muita informação disponível, e novos métodos de tratamento do câncer estão sendo testados. Em conseqüência de tanta informação, torna-se difícil saber por onde começar. As terapias complementares não são totalmente eficazes para todos os pacientes, porém alguns métodos sempre serão úteis no manejo do estresse, náuseas, dores e outros sintomas ou efeitos colaterais.
Uma mensagem importante é que se procure sempre falar com o medico responsável ao iniciar qualquer nova pratica. Esta atitude irá assegurar que nada poderá interferir no direcionamento do tratamento proposto.