Você sabe o que é Síndrome da Fadiga Crônica (SFC)? Graças à estreia do documentário “Unrest” na Netflix, muitas pessoas puderam ter mais informações sobre essa patologia, mas o diagnóstico ainda é pouco estudado e discutido na comunidade médica mundial. Por isso, neste 12 de maio, acontece uma campanha mundial encabeçada pela pesquisadora e diretora do filme que chama a atenção para a divulgação do transtorno.
A Encefalomielite Miálgica ou Síndrome da Fadiga Crônica é uma condição de diagnóstico clínico cujo principal sintoma é a presença de fadiga (cansaço) intensa que pode piorar com a atividade física ou mental, mas não melhora com o repouso.
Além da fadiga, os pacientes podem sentir dificuldade com a memória ou concentração, dor de garganta, presença de gânglios (íngua) dolorosos no pescoço ou nas axilas, diarreia, irritabilidade, dores musculares e nas juntas, dor de cabeça, sono não reparador, entre outros sintomas.
Não é fácil dizer quantas pessoas foram diagnosticadas com SFC no Brasil porque não há obrigatoriedade na notificação de casos por parte da comunidade médica. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o diagnóstico pode ser dado por uma vasta gama de especialistas – clínico geral, otorrinolaringologista, pneumologista, infectologista, reumatologista, neurologista, psicólogo, psiquiatra e médico do sono – dentro do sistema público de saúde.
Uma das grandes dificuldades em se descobrir se alguém sofre de SFC está no diagnóstico por exclusão, ou seja, deve-se investigar todas as outras possibilidades de doenças. “Só podemos dizer que uma pessoa tem fadiga crônica quando não conseguimos encontrar outra doença que justifique os sintomas. É preciso descartar doenças mais comuns, como problemas no sono e transtornos do humor. Até mesmo uma depressão não muito intensa pode se manifestar por meio de uma fadiga”, explica a neurologista Rosa Hasan.
Especialista em medicina do sono, Rosa explica que a fonte dos problemas para pessoas que sentem uma intensa fadiga crônica costuma ser a dificuldade em dormir bem. “Pode ser um sono curto, um problema de quem acorda muitas vezes à noite ou problemas respiratórios que provocam apneia. Quem não dorme bem sente uma intensa fadiga no dia seguinte, mas não necessariamente uma sonolência”, completa.
Não há um tratamento específico para a síndrome, normalmente os médicos tratam os sintomas, que muitas vezes passam por fatores estressantes orgânicos (infecções) ou psicológicos. Não se sabe ainda se há cura, mas muitos pacientes se recuperam com o passar do tempo.
Unrest
Jennifer Brea cursava seu doutorado em Harvard quando apresentou os primeiros sintomas da doença, que muitas vezes chega a impossibilitar que a pessoa se levante da cama. Por meio do documentário “Unrest” (sem descanso, em tradução livre), apresentado no Sundance Festival do ano passado, ela pôde descobrir outros muitos casos de quem convive com o mesmo problema.
Além do filme, ela percebeu que podia fazer muito mais pelas pessoas que sofrem com o SFC. O dia 12 de maio foi escolhido para uma mobilização mundial, com intervenções em ruas de grandes cidades de diferentes países para conscientizar pessoas da existência do diagnóstico. A campanha, que espera arrecadas US$ 100.000, chama atenção também para a necessidade de realização de pesquisas para se descobrir a origem da doença.
Por que uma ação como essa é tão importante? Porque as pessoas com SFC sofrem um grande preconceito. Como o doente afirma ter dores fortes, mas não há um diagnóstico que explique a fonte do problema, tem de lidar com a inevitável acusação de preguiça.