Uso do produto sem orientação médica pode causar problemas graves de saúde, alertam médicos
Um lote do Suplemento Alimentar Vitamina D em comprimidos 2.000 UI, da Stem Pharmaceutical Suplementos Alimentares Ltda., está sendo recolhido do mercado depois de ter sido identificada uma alta dosagem. A empresa, que tem sede em Alvorada, lançou comunicado nesta semana solicitando que os consumidores suspendam imediatamente a ingestão do suplemento vendido no Lote 19001, com data de fabricação de setembro de 2019 e validade até setembro de 2021. Pelo menos duas pessoas apresentaram intoxicação pelo suplemento, precisaram ser internadas em hospitais e comunicaram o fato à empresa.
De acordo com a assessoria da Stem, 1,6 mil frascos plásticos desse lote — com 30 comprimidos cada — foram repassados ao mercado no Rio Grande do Sul e no Piauí. O produto é dispensado da obrigatoriedade de registro, conforme a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 240, de 26 de julho de 2018. Ainda conforme a assessoria, a empresa está recolhendo o lote desde terça-feira (22), a partir do resultado do laudo do laboratório de controle de qualidade Pharmacontrol. Até esta quinta-feira (24), 70% dos frascos, que teriam sido os únicos desse tipo produzidos pela Stem, já teriam sido recolhidos pela fabricante.
No início deste mês, uma jovem de 15 anos, de Porto Alegre, ficou internada por sete dias, quatro deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), depois de apresentar náuseas, cansaço e vômitos sequenciais. Segundo a mãe da adolescente, a administradora de empresas Cláudia Romanini, 51 anos, exames laboratoriais solicitados por uma gastroenterologista confirmaram altas doses de vitamina D no organismo da menina. Imediatamente, o laboratório avisou à especialista, que solicitou a internação da paciente.
— Foram refeitos todos os exames para confirmar que não era algum tumor. O cálcio estava o dobro do limite. E quando veio o resultado da vitamina D, confirmou a intoxicação porque estava nove vezes acima do normal — conta Cláudia.
Com hipercalcemia grave, quando há um nível elevado de cálcio no sangue, a jovem passou por um processo de desintoxicação intravenosa e precisou repor outras vitaminas. Mesmo depois de receber alta, ela segue em tratamento ambulatorial semanal com uma equipe de endocrinologia.
Por conta própria, a família encaminhou os comprimidos restantes do suplemento para análise em laboratório particular. Foi confirmada uma dosagem muito acima da indicada no frasco — em vez de 2.000 UI (Unidade Internacional), identificou-se a concentração de 1.067.520 UI.
Na quarta-feira (23), Cláudia contatou a fabricante para alertar sobre o problema. Há informação de que uma outra adolescente, de 13 anos, também foi intoxicada por comprimidos do lote.
Ainda na quarta, segundo a assessoria de imprensa da Stem, equipes da vigilância sanitária municipal e estadual realizaram uma inspeção na empresa, que existe há duas décadas. A Stem também informou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o problema.
A fabricante disponibilizou o recolhimento do produto, de forma gratuita e no endereço do consumidor, bem como o ressarcimento da compra. Ainda no comunicado divulgado à população, a empresa afirmou que "o episódio atual relativo ao Suplemento de Vitamina D será rigorosamente investigado e gerará novos protocolos de segurança na fabricação dos seus produtos. Desde já, registramos nosso verdadeiro e profundo lamento e pedido de desculpas. Reforçamos o compromisso com a transparência e a gestão pela qualidade de nossos produtos e processos".
Covid aumentou uso de suplemento sem orientação médica
De acordo com a mãe da jovem que apresentou intoxicação por uso de vitamina D, a família passou a usar o suplemento a partir da pandemia de covid-19. Por causa da pouca exposição ao sol durante o período de distanciamento social, Cláudia e as filhas, de 12 e 15 anos, começaram a fazer uso da vitamina D. Sem indicação médica ou exame que apontasse a necessidade de complementar a vitamina, a jovem ingeriu diariamente pelo menos um comprimido do suplemento por uma semana, ao contrário da irmã mais nova, que ingeria esporadicamente. Cláudia usava outra marca de suplemento.
— Passamos a tomar vitamina D pela questão da pandemia. Agora, paramos com todas elas — afirma a administradora.
Casos de pessoas ingerindo vitamina D sem qualquer acompanhamento médico se tornaram cada vez mais comuns a partir do surgimento do coronavírus, segundo médicos de hospitais de Porto Alegre consultados pela reportagem. Em algumas situações, houve intoxicação, assim como ocorreu com a jovem de 15 anos. Segundo a endocrinologista do corpo clínico do Mãe de Deus Elisa Sfoggia Romagna, em pelo menos um caso, ocorrido há um mês, uma senhora de mais de 60 anos precisou ser internada.
— Quase todos os dias chega um paciente no consultório confirmando que está tomando vitamina D por conta, devido à covid-19. Não existe estudo clínico e randomizado que comprove benefício dessa vitamina para tratamento de covid — afirma Elisa.
Chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Rogério Friedman ressalta que nos últimos meses percebeu um aumento na frequência de casos por intoxicação por vitamina D entre pacientes dele e de colegas da área em outras instituições.
— Ela é vendida como suplemento alimentar, não como medicamento, mas não aconselhamos que as pessoas saiam tomando qualquer dose de vitamina D sem discutir antes com um médico ou um profissional da nutrição. Ela é segura em doses habituais, para prevenir osteoporose, por exemplo. Mas passa a ser tóxica e causa danos se a pessoa exagerar. Para cada indivíduo, há um nível de recomendação a ser seguido — alerta o especialista.
Friedman também confirma que não há evidência sólida na literatura médica indicando que doses maciças de vitamina D possam ser benéficas contra a covid-19. Pelo contrário. Conforme o especialista, doses altas da vitamina podem causar o aumento do nível de cálcio e, consequentemente, ocorrências como cálculo renal, insuficiência renal aguda, manifestações cerebrais (desorientação), alterações no ritmo cardíaco e desidratação.
Orientações para quem tem frasco do suplemento lote 19001, da Stem Pharmaceutical, com data de fabricação 09/2019 e validade 09/2021:
- Para os consumidores que já compraram, há um serviço gratuito de recolhimento domiciliar
- É preciso apenas entrar em contato com a Stem
- Haverá o ressarcimento do valor pago pelo consumidor
- Para contatar a Stem o telefone é (51) 3367-4033 e o e-mail: sac@stem.com.br