Nem a dieta da revista, nem o remédio do médico, nem o exercício do fórum de pacientes, simplesmente nada que você tenta reduz a dor? Então melhor ler este texto
Por Fabíola Peixoto Minson*
Muitas vezes as pessoas chegam ao consultório desanimadas. Elas contam que já tentaram várias coisas, mas não conseguiram melhorar nem um pouquinho da dor. Às vezes o fracasso é da dieta contra dores, que a pessoa viu na revista, fez em casa, mas não resultou. Outras vezes, do exercício que um outro paciente faz – e resolveu as dores dele – mas que não teve efeito nenhum. Há ainda quem seguiu à risca o medicamento que o médico indicou, mas continuou sentindo todos os incômodos.
A lista de tentativas e fracassos é tão grande que poderíamos gastar linhas e mais linhas enumerando possibilidades, mas, em vez disso, vamos pular para o passo seguinte (que é o que realmente importa) e analisar por que isso acontece. Por que muitas vezes os pacientes parecem estar em um beco sem saída, no qual tudo que tentam está fadado ao fracasso? Ou, nas palavras dos próprios pacientes “por que nada que faço ajuda a aliviar a dor?”.
A individualidade de cada organismo
Um primeiro ponto para entender esse problema está no modo como o corpo de cada um de nós responde às coisas, como funcionamos. Ao tratar a dor de um paciente, essas particularidades precisam ser levadas em conta e, para que elas sejam consideradas, elas precisam, em primeiro lugar, ser verdadeiramente entendidas.
Às vezes, é uma questão biológica mesmo: os corpos não respondem da mesma maneira a um medicamento. É por isso que um paciente pode se sentir melhor tomando determinado analgésico enquanto para outro paciente o mesmo remédio tem efeitos muito ruins. Observar e reagir a essas diferenças é uma das muitas funções da equipe de saúde.
Nem todos nós gostamos das mesmas coisas
Outras vezes, é uma questão de gosto ou de adaptação à rotina. Por exemplo, por mais que a ciência diga que a caminhada é ótima para a fibromialgia, há pacientes que simplesmente não gostam de caminhar – e, por isso, não vão sentir os mesmos benefícios sentidos por aqueles que a abraçaram atividade. Ou ainda há pacientes que não podem caminhar, por causa de algum outro problema na articulação, por exemplo.
Entender esses limites – sejam eles físicos ou psicológicos – e contorná-los também é importante no nosso trabalho e é um dos pontos cruciais para o controle da dor.
O poder do tratamento em várias frentes
Além de ser individualizado (ou seja, pensado para cada paciente), o tratamento da dor é mais eficiente quando lança mão de vários recursos ao mesmo tempo. Não existe dieta milagrosa nem atividade física mágica, assim como não há remédio que dê conta de resolver todos os problemas. Entretanto, uma combinação entre melhor alimentação, atividades físicas, terapias complementares e medicamentos pode ter resultados surpreendentes na vida do paciente.
Às vezes, o que estava dando errado antes de o paciente chegar ao consultório é exatamente o fato de que ele ou ela estava apostando todas as fichas em uma coisa só, quando na verdade o tratamento para a dor crônica costuma ser feito em várias frentes, que atuam simultaneamente. De acordo com as características individuais de cada paciente, é montada uma proposta de tratamento, combinando as técnicas necessárias para cuidar de cada caso – se o paciente tem depressão, psicoterapia; se está acima do peso, estratégias para melhorar a alimentação e exercitar-se mais… e por aí vai.
A luta contra o relógio
Claro, fazer a afinação entre as estratégias que nós profissionais de saúde temos à disposição e as necessidades de cada paciente nem sempre é algo rápido. Há pacientes que chegam ao consultório apresentando quadros complicadíssimos, derivados de anos e anos de sofrimento sem tratamento. É de se imaginar que algo criado durante anos não possa ser resolvido em minutos. Por isso, trabalhar a resiliência é importante. Quando um paciente novo chega, com base no que ele nos relata e nos resultados dos exames, montamos uma proposta terapêutica seguindo os protocolos de atendimento. Às vezes não será de primeira que conseguiremos acertar o melhor tratamento possível, mas não teríamos como saber disso sem tentar.
Tentar, observar os resultados, identificar problemas, pensar em soluções. É assim que o tratamento funciona. E, nesse processo, é preciso que o paciente esteja conosco, ativo, participante e resiliente. O trabalho de controle da dor é em parte de nós, profissionais da saúde, mas, sobretudo, ele é também responsabilidade do paciente. O paciente precisa estar interessado na sua própria melhoria, precisa agir conosco, dar feedbacks, decidir suas prioridades. Controlar a dor crônica muitas vezes envolve uma verdadeira reestruturação dos hábitos de uma pessoa e ninguém melhor que ela mesma para tomar as rédeas desse processo, não é mesmo?
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Fabíola Peixoto Minson é médica anestesiologista e referência em tratamento da dor. É fundadora e coordenadora do Centro Integrado de Tratamento da Dor, em São Paulo, autora do livro Ufa! Chega de Dor e uma das idealizadorasdeste site.
Fonte: http://www.chegadedor.com/2016/10/14/nada-que-faco-ajuda-a-aliviar-a-dor/?ct=t(Boletim_8710_13_2016)
Fonte: http://www.chegadedor.com/2016/10/14/nada-que-faco-ajuda-a-aliviar-a-dor/?ct=t(Boletim_8710_13_2016)