Seja Bem Vindo ao Universo do Fibromiálgico

A Abrafibro - Assoc Bras dos Fibromiálgicos traz para você, seus familiares, amigos, simpatizantes e estudantes uma vasta lista de assuntos, todos voltados à Fibromialgia e aos Fibromiálgicos.
A educação sobre a Fibromialgia é parte integrante do tratamento multidisciplinar e interdisciplinar ao paciente. Mas deve se estender aos familiares e amigos.
Conhecendo e desmistificando a Fibromialgia, todos deixarão de lado preconceitos, conceitos errôneos, para darem lugar a ações mais assertivas em diversos aspectos, como:
tratamento, mudança de hábitos, a compreensão de seu próprio corpo. Isso permitirá o gerenciamento dos sintomas, para que não se tornem de difícil do controle.
A Fibromialgia é uma síndrome, é real e uma incógnita para a medicina.
Pelo complexo fato de ser uma síndrome, que engloba uma série de sintomas e outras doenças - comorbidades - dificulta e muito os estudos e o próprio avanço das pesquisas.
Porém, cientistas do mundo inteiro se dedicam ao seu estudo, para melhorar a qualidade de vida daqueles por ela atingidos.
Existem diversos níveis de comprometimento dentro da própria doença. Alguns pacientes são mais refratários que outros, ou seja, seu organismo não reage da mesma forma que a maioria aos tratamentos convencionais.
Sim, atualmente compreendem que a síndrome é "na cabeça", e não "da cabeça". Esta conclusão foi detalhada em exames de imagens, Ressonância Magnética Funcional, que é capaz de mostrar as zonas ativadas do cérebro do paciente fibromiálgico quando estimulado à dor. É muito maior o campo ativado, em comparação ao mesmo estímulo dado a um paciente que não é fibromiálgico. Seu campo é muito menor.
Assim, o estímulo dispara zonas muito maiores no cérebro, é capaz de gerar sensações ainda mais potencialmente dolorosas, entre outros sintomas (vide imagem no alto da página).
Por que isso acontece? Como isso acontece? Como definir a causa? Como interromper este efeito? Como lidar com estes estranhos sintomas? Por que na tenra infância ou adolescência isso pode acontecer? Por que a grande maioria dos fibromiálgicos são mulheres? Por que só uma minoria de homens desenvolvem a síndrome?
Estas e tantas outras questões ainda não possuem respostas. Os tratamentos atuais englobam antidepressivos, potentes analgésicos, fisioterapia, psicoterapia, psiquiatria, e essencialmente (exceto com proibição por ordem médica) a Atividade Física.
Esta é a parte que têm menor adesão pelos pacientes.
É dolorosa no início, é desconfortante, é preciso muito empenho, é preciso acreditar que a fase aguda da dor vai passar, trazendo alívio. Todo paciente precisa de orientação médica e/ou do profissional, que no caso é o Educador Físico. Eles poderão determinar tempo de atividade diária, o que melhor se adequa a sua condição, corrige erros comuns durante a atividade, e não deixar que o paciente force além de seu próprio limite... Tudo é comandado de forma progressiva. Mas é preciso empenho, determinação e adesão.

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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Como Diagnosticar e Tratar Fibromialgia - Fibromyalgia


Antônio Scafuto Scotton
Mestre em Reumatologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Chefe do Serviço e da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFJF.
Viviane Angelina Souza
Professora de Reumatologia da Faculdade de Medicina da UFJF.
Rafael de Oliveira Fraga
Professor de Reumatologia da Faculdade de Medicina da UFJF. Presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia 2011/2012.
Silviane Vassalo
Professora de Reumatologia da Faculdade de Medicina da UFJF. Professora da Universidade Antônio Carlos.
Renata Valente Lisboa, Thales Valente Lisboa
Medicina da Faculdade de Medicina da UFJF.
RBM Jul 2010 V 67 N 7

Recebido para publicação em 05/2010.
Aceito em 06/2010.

© Copyright Moreira Jr. Editora. Todos os direitos reservados.

Indexado LILACS: S0034-72642010004500001
Unitermos: dor crônica, fibromialgia
Unterms: chronic pain, fibromyalgia

Numeração de páginas na revista impressa: 221 à 227

Resumo


A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por dor difusa e pontos dolorosos sem a evidência de sinovite, miosite ou outros sinais inflamatórios clínicos e laboratoriais. Acomete preferencialmente o sexo feminino entre 30 e 50 anos, podendo atingir qualquer faixa etária. A sua etiologia ainda não foi definida, apesar da extensa investigação, sendo relacionada a alterações de humor, infecção, distúrbios do sono e disfunções de neurotransmissores. O quadro clínico se caracteriza por dor difusa, alteração da qualidade do sono e do humor, fadiga, parestesia, cefaleia, edema subjetivo, rigidez articular, tonteira, zumbidos, precordialgia atípica e alterações digestivas, o que confunde o diagnóstico e atrasa o início do tratamento. Mudança no estilo de vida, atividade física regular, suporte psicológico e utilização de drogas específicas podem alterar o curso da história natural da doença e aliviar o sofrimento do paciente.

Conceito

A fibromialgia (FM) pode ser definida como uma síndrome dolorosa músculo-esquelética crônica, não inflamatória, caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo e sensibilidade exacerbada à palpação de determinados sítios denominados pontos dolorosos (tender points). A maioria dos pacientes apresenta também fadiga crônica e distúrbios do sono e do humor, além de alodinia e hiperalgesia(1,16).

Histórico

Relatos de pacientes com dor músculo-esquelética difusa foram denominados reumatismo muscular e se referiam a locais dolorosos e rígidos à dígito-pressão, datando de 1843(1).

Em 1850, Froriep observou que doentes com reumatismo apresentavam pontos endurados musculares à palpação(2).

Sir William Gowers, em 1904, introduziu o termo fibrosite que englobava síndromes regionais, como a lombalgia, síndromes miofasciais e cervicobraquialgias, que tinham origem de um processo inflamatório em nível muscular(3).

Stockman et al., em 1904, realizaram sete biópsias de nódulos glúteos, encontrados em pacientes com lombalgia, imaginando que esses nódulos fossem a causa dos sintomas, e observaram alterações inflamatórias em bainhas neurais. A partir desse achado anatomopatológico, o termo fibrosite passou a ser aceito na literatura. Entretanto, vários estudos posteriores não conseguiram reproduzir os achados inflamatórios (1).

Em 1968, Traut definiu fibrosite como uma síndrome de dor músculo-esquelética generalizada acompanhada de fadiga, sono ruim e hipersensibilidade à palpação de certos pontos, localizados na inserção de músculos e tendões (3).

Em 1972, Smythe e Moldofsky descreveram determinados sítios anatômicos, denominados tender points (pontos dolorosos), que eram mais sensíveis à palpação em pacientes com fibrosite do que em indivíduos normais(1,3).

Em 1975, Moldofsky et al. descreveram, através de estudo eletroencefalográfico do sono, um padrão anormal no traçado das ondas cerebrais (intrusão de ondas alfa nas ondas delta, durante os estágios 2, 3 e 4 do sono não REM)(1,3).

A fibrosite, no entanto, permaneceu ignorada pela maioria dos médicos até a década de 80, quando Yunus et al., em 1981, realizaram o primeiro estudo controlado para fibrosite, confirmando que se tratava de uma entidade distinta e propuseram substituir sua denominação para fibromialgia(1,3).

Finalmente, em 1990, Wolfe F, Smythe HA, Yunus MB et al. publicaram, após estudo multicêntrico envolvendo 16 centros de estudos em fibromialgia do Canadá e Estados Unidos da América do Norte, uma proposta para critérios de classificação para a síndrome da fibromialgia, de acordo com o estudo do Colégio Americano de Reumatologia(1).
Epidemiologia

A fibromialgia é extremamente comum, a sua prevalência é de aproximadamente 2% na população geral, sendo responsável por aproximadamente 15% das consultas em ambulatório de reumatologia geral(4).

Existe forte predominância do sexo feminino (80% a 90% dos casos), com um pico de incidência entre 30 e 50 anos de idade, podendo manifestar-se em crianças, adolescentes e indivíduos idosos(5,6).

No Brasil, Bianchi, Messias e Gonçalves estudaram as populações com queixas de dores crônicas músculo-esqueléticas nas cidades de Fortaleza, Porto Alegre e Rio de Janeiro e constataram que 10,2% dos indivíduos apresentavam fibromialgia(2).

Estudo feito por Helfenstein et al. demonstrou uma alta prevalência de FM, 70% em pacientes com o diagnóstico de lesão por esforço repetitivo (LER), distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (DORT).

É frequente a associação entre fibromialgia e outras comorbidades, uma vez que essas contribuem para o sofrimento e a piora na qualidade de vida desses pacientes. Dentre as comorbidades mais frequentes podemos citar depressão, ansiedade, síndrome da fadiga crônica, síndrome miofascial, síndrome do cólon irritável e outras doenças reumatológicas(21).

Os portadores da fibromialgia se utilizam de mais terapias analgésicas e procuram serviços médicos com maior frequência que a população normal. Um estudo americano mostrou que os custos anuais por paciente podem chegar até U$ 9.573,00, sendo três a cinco vezes maiores do que o gasto com a população em geral, despesa essa causada pelo excesso de visitas médicas, exames complementares desnecessários e medicações múltiplas(4,21).

Etiologia / Fisiopatologia

A etiologia da FM ainda é desconhecida, embora a fisiopatologia seja baseada em possíveis alterações na concentração de neurotransmissores (diminuição de serotonina), no metabolismo muscular, fisiologia do sono, função neuro-hormonal, estado psicológico e fluxo sanguíneo cerebral(8,9).

Alguns estudos com pacientes fibromiálgicos revelaram distúrbios no metabolismo energético muscular, alterações histológicas consistentes com anóxia tecidual foram encontradas embora estudos controlados mais recentes tenham falhado em confirmar estes resultados iniciais. Devido ao fato de que a maioria dos pacientes fibromiálgicos é sedentária, possuindo baixo condicionamento físico, podemos imaginar que alterações no metabolismo possam ser responsáveis pela maior sensibilidade dolorosa destes pacientes(6).

Diversos achados sugerem um vínculo entre fibromialgia e distúrbios do sono. A alteração do sono mais comum no paciente com FM consiste na intrusão de ondas alfa de vigília em ondas delta de sono profundo. Cerca de 80% dos pacientes fibromiálgicos consideram ter um sono não reparador, sendo as queixas mais frequentes quase sempre relacionadas à fadiga matutina e dor ao despertar(4). Moldofsky reproduziu os sinais e sintomas da fibromialgia em pessoas saudáveis através da interrupção da fase III-IV do sono não REM com estímulos auditivos(6).

Alterações endócrinas com anormalidades no eixo hipotálamo-hipofisário têm sido descritas em alguns estudos, embora permaneça incerto se os distúrbios observados são apenas constitutivos ou resultantes da fibromialgia(4,10).

Feldman et al.(1) e Provenza et al.(11) avaliaram o fluxo sanguíneo cerebral com SPECT (single-positron-emission-computed tomography), demonstrando áreas no tálamo, núcleo caudado e regiões pré-frontais com fluxo diminuído. Estas áreas são responsáveis pela integração, análise e interpretação dos estímulos dolorosos e têm conexões importantes com áreas do hipocampo e sistema límbico, que controlam as sensações de afetividade.
É possível que o estresse desempenhe papel relevante na mediação e perpetuação dos sintomas da FM. Muitos pacientes referem que os primeiros sintomas surgiram após período de estresse crônico ou após traumatismo(2).

Um experimento recente mostrou de maneira convincente que a atitude mental do indivíduo pode influenciar o desprazer causado por um estímulo doloroso padronizado e que isso se correlaciona com alterações no fluxo sanguíneo no giro do cíngulo. Dessa maneira, a atividade pré-cortical (pensamentos positivos ou negativos) pode influenciar a percepção da dor(4). 



Figura 1 - Sintomas associados à fibromialgia(22).

Quadro clínico

O quadro clínico costuma ser bastante rico e os pacientes fibromiálgicos são habitualmente poliqueixosos. Isso demonstra, a princípio, que a consulta tende a ser demorada, exigindo anamnese e exame físico detalhado(4). O sintoma característico da FM é dor muscular generalizada, frequentemente acompanhada de rigidez, fadiga, anormalidades na qualidade do sono e distúrbios do humor(6,12).
A dor é o principal fator a levar o paciente a procurar cuidados médicos. As queixas dos pacientes em relação aos sintomas dolorosos são expressas com palavras do tipo: pontada, queimação, sensação de peso, entre outras. A localização da dor é geralmente relatada de forma desencontrada, em que o paciente apresenta dificuldade na localização precisa do processo doloroso. Alguns têm a impressão de que ela ocorre nos músculos, outros nas articulações, enquanto uma parte relata a dor como se localizasse nos ossos ou “nervos”. As localizações mais comuns são: coluna vertebral, cinturas escapular e pélvica, podendo também ocorrer em nível de parede anterior do tórax (fato que com relativa frequência leva o paciente aos serviços de urgência cardiológica). Uma grande parte desses pacientes se queixa de dor difusa, referindo a dor com expressões do tipo: “dói o corpo todo” ou “dói tudo, doutor”, quando interrogados sobre a sua localização. Os pacientes fibromiálgicos apresentam quadro de dor tão intensa que em diversos trabalhos, como o de Wolf e cols., foi superior à dor da artrite reumatoide quando utilizadas as escalas visuais analógicas de dor(6).
Uma grande parcela dos pacientes queixa rigidez articular, porém, diferente da rigidez matinal da artrite reumatoide, é de curta duração e com períodos inferiores a 15 minutos(13).

Fadiga é outro sintoma muito comum, podendo ser acentuada, levando o paciente a dificuldades no exercício profissional, prática de esportes e no lazer. As expressões típicas do paciente são “eu estou com falta de energia” e “eu estou sempre cansada”. A intensidade da fadiga e da astenia pode ser considerada um bom parâmetro na evolução da doença e resposta ao tratamento(6).

O distúrbio do sono está presente em até 96% dos pacientes, podendo ser descrito como dificuldade para conciliar o sono, insônia terminal, vários despertares ao mínimo ruído, sono não reparador (paciente acorda pela manhã mais cansado do que antes de se deitar)(6,14,22).

Edema subjetivo (relatado pelo paciente, porém jamais verificado pelo examinador) está presente em cerca de 50% dos pacientes, podendo ser articular ou não. Este sintoma pode induzir a diagnósticos enganosos de doenças inflamatórias(6).

Parestesias são comuns e descritas como formigamentos e agulhadas com localizações imprecisas, mais comumente presentes nas extremidades superiores ou localizações bizarras (face, língua etc.). Confundida com síndrome do túnel do carpo e do tarso, compressões cervicais ou lombares(6).

Queixas como cefaleia, zumbidos, tonteiras, alterações digestivas (síndrome do cólon irritável), dismenorreia, disúria, disfunção têmporo-mandibular, ansiedade e depressão estão presentes na maioria dos pacientes que acaba submetendo-se a inúmeros exames complementares na tentativa de chegar a um diagnóstico, levando o paciente a um círculo vicioso e à descrença na cura da doença ou, muitas vezes, aterrorizando-o com a possibilidade de ter uma doença incurável(6).

Sintomas sistêmicos, como febre e emagrecimento, não são encontrados na FM e devem servir de alerta para a presença de condições mais graves que também causem dor generalizada(19).

Incapacidade para o trabalho é relatada por 31% dos pacientes(15), podendo levar à tentativa de ganhos secundários, como aposentadoria precoce e afastamento do trabalho. Segundo o último Consenso Brasileiro do Tratamento da Fibromialgia, tal doença não justifica afastamento do trabalho(21). 
Figura 2 - Os 18 tender points (pontos dolorosos) para a Classificação da Fibromialgia: 1) região occipital 2) borda médio-superior do trapézio 3) músculo supraespinhoso 4) quadrante superior-externo do glúteo 5) grande trocanter 6) região equivalente entre os espaços vertebrais de C5-C7 7) junção da segunda costela 8) 2 centímetros abaixo do epicôndilo lateral e 9) borda medial do joelho.

Diagnóstico

O diagnóstico da fibromialgia é exclusivamente clínico, devendo ser feito através de uma boa anamnese e um detalhado exame físico. Já os exames complementares assumem um papel de exclusão de doenças que podem simular um quadro de fibromialgia(6).

No exame clínico, deveremos investigar os 18 tender points elaborados pelo Colégio Americano de Reumatologia para facilitar o diagnóstico da fibromialgia(16).

A dor é considerada difusa quando está presente, tanto no lado direito e esquerdo do corpo quanto acima e abaixo da cintura, e para o diagnóstico essa deve ser persistente por mais de três meses. A dor também deve estar presente em, pelo menos, um segmento do esqueleto axial (coluna cervical, torácica ou lombar) associada a pelo menos 11 dos 18 pontos dolorosos proporciona uma sensibilidade de 88,4% e uma especificidade de 81,1%(16).

Os critérios de resposta dolorosa em pelo menos 11 desses 18 pontos dolorosos são recomendados como proposta de classificação, mas não devem ser considerados como essencial para o diagnóstico. Alguns pacientes com menos de 11 pontos dolorosos podem ser diagnosticados como portadores de FM por apresentarem os outros comemorativos dessa síndrome(4).

Exames laboratoriais de rotina e de imagem são, em geral, normais, servindo apenas para exclusão de outras doenças. Os estudos mostram que estes exames estão alterados na mesma proporção da população saudável(6).

Algumas doenças reumatológicas nas suas formas iniciais podem apresentar características semelhantes à fibromialgia, porém na maioria das vezes o diagnóstico é feito ao longo da sua evolução e por testes sorológicos que apresentam alterações específicas como na artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren etc.(6). 
Figura 3 - Diagnóstico da fibromialgia.

Dentre todas as enfermidades que necessitam de diagnóstico diferencial com a FM, a síndrome miofascial e da fadiga crônica devem ser destacadas devido às suas maiores semelhanças com a FM(4).

As tendinites e tenossinovites podem ser confundidas com a síndrome fibromiálgica, diferindo-se por serem localizadas em um ou poucos pontos(6).

Muitos pacientes com o diagnóstico de LER/DORT apresentam, na verdade, quadro de fibromialgia, preenchendo os critérios, conforme atestam vários trabalhos na literatura médica porém por interesses variados, tanto de pacientes e de médicos quanto de advogados inescrupulosos buscando compensações financeiras por possíveis danos “ditos” irreversíveis a estes pacientes, têm seus diagnósticos atrasados ou confundidos, gerando prejuízos as empresas e cofres públicos, além do próprio paciente que não tem a sua doença efetivamente diagnosticada e tratada(17).

A função tireoidiana deverá se investigada, já que o hipotireoidismo pode cursar com os sintomas semelhantes ao da fibromialgia(6,8). 



Tratamento

A fibromialgia se constitui em uma síndrome ainda não totalmente entendida e, por isso, o seu tratamento permanece empírico. Inúmeros trabalhos têm sido publicados na literatura médica, abordando diversas formas de tratamento, porém nenhuma delas chegando a resultados considerados excelentes(6).

A estratégia para o tratamento ideal da fibromialgia requer uma abordagem multidisciplinar com a combinação de modalidades farmacológicas e não farmacológicas(21).

Podemos considerar que o tratamento exige uma boa dose de arte, associada a conhecimento médico. Geralmente o paciente chega ao consultório com certa ansiedade e frustração em relação a tratamentos previamente empregados, comumente corticosteroides, anti-inflamatórios não esteroides e penicilina. Além disso, os inúmeros exames laboratoriais e de imagem a que se submeteu colaboram com o temor de possuir uma doença incurável e de evolução letal. Em consequência, o médico deve, embasado em sua experiência e conhecimento científico, tranquilizar o paciente, mostrando firmeza em seu diagnóstico, associado a uma atitude de compreensão de seus temores(6).

O tratamento deve ser elaborado com o paciente, levando em consideração a intensidade de sua dor, questões biopsicossociais e culturais(21).

A partir daí, a introdução de medidas e das drogas hoje disponíveis deve ser feita, porém ressaltando ao paciente a importância da mudança de seus hábitos de vida, a ressocialização do paciente e a prática regular de atividade física. Nesse aspecto, a prática de exercícios aeróbicos de baixo impacto, como caminhada, hidroginástica e natação, tem mostrado resultados promissores na melhora da qualidade de vida, diminuição da intensidade da dor, melhora do sono e do convívio social e familiar(6). Diante do exposto, os pacientes devem ser mantidos na sua rotina laboral e de atividade física na tentativa de mantê-los produtivos e socializados, gerando uma melhor resposta à terapêutica.

A terapia cognitivo-comportamental pode apresentar resultados efetivos a longo prazo, inclusive fazendo com que os pacientes obtenham um melhor controle sobre os sintomas e aumentem sua aderência ao tratamento(4).

Dentre as medidas não farmacológicas, programas individualizados de alongamento ou de fortalecimento muscular e terapias, como fisioterapia ou relaxamento, podem ser indicados em alguns pacientes(21).

Pacientes fibromiálgicas portadoras de comorbidades como depressão ou ansiedade podem se beneficiar com a indicação de suporte psicoterápico.
Atualmente não há consenso quanto à indicação de tratamentos com acompanhamento clínico como a balneoterapia ou acupuntura. Entretanto, houve consenso quanto a não indicação de hipnoterapia, manipulação quiropática e massagem terapêutica para o alívio da dor na fibromialgia(21).
Outras terapias como pilates, RPG e tratamento homeopático não foram recomendadas para o tratamento da fibromialgia(21).

Não existem evidências científicas de que terapias alternativas, como chá, terapia ortomolecular, cromoterapia ou infiltrações de pontos dolorosos, sejam eficazes no tratamento da fibromialgia(21).

Entre as drogas empregadas, os antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina e nortriptilina, têm sido os mais utilizados, pela sua capacidade de inibir a recaptação periférica da serotonina e da noradrenalina, potencializando o efeito de ambos os neurotransmissores, promovendo uma melhora do quadro geral do paciente. As doses utilizadas são, em geral, baixas, em torno de 12,5 a 50 mg por dia de amitriptilina, duas a quatro horas antes de deitar, o que causa melhora em 30% a 50% dos casos(4,6,18). Já as medicações imipramina e clomipramina não foram recomendadas para o tratamento da fibrolmialgia(21).

A ciclobenzaprina, outro agente tricíclico, tem mostrado resultados promissores no tratamento da fibromialgia, quando comparada ao placebo e inferiores quando comparada a amitriptilina. É uma droga que não apresenta efeitos antidepressivos, sendo utilizada como miorrelaxante, ação derivada, provavelmente, da sua habilidade em modular a tensão muscular em nível supraespinhal, ao reduzir a atividade do neurônio motor eferente(4,6,18).

Entre os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, há consenso de que a fluoxetina em altas doses (acima de 40 mg) também reduz a dor e frequentemente melhora a capacidade funcional, sendo assim também recomendada para o tratamento da fibromialgia. O uso isolado dos demais antidepressivos bloqueadores seletivos da serotonina, como o citalopram, escitalopram, paroxetina e sertralina, não são recomendados(21). Já o uso de inibidores da recaptação de serotonina associados a antidepressivos tricíclicos apresenta boa resposta.

Os derivados benzodiazepínicos mostram eficácia mínima, não sendo recomendados para o uso na fibromialgia (grau de recomendação D), ficando seu uso indicado por curtos períodos e em casos de ansiedade extrema(4,21).

Atualmente, segundo o Consenso Brasileiro do Tratamento da Fibromialgia, drogas como duloxetina, milnaciprano e moclobemida (inibidor da MAO) apresentam grau de recomendação A para o tratamento da FM, logo, também podem ser utilizadas. Outra medicação disponível é o pramipexol, um antiparkinsoniano que apresenta boa resposta, entretanto deve ser prescrito para pacientes que apresentem distúrbios do sono como na síndrome das pernas inquietas. As drogas zopiclona e zolpidem estão recomendadas para o tratamento dos distúrbios do sono na FM(21).

A tentativa de utilização de anti-inflamatórios esteroides e não esteroides, analgésicos opiáceos ou não tem sido objeto de diversos estudos. Analgésicos simples, anti-inflamatórios não esteroides e opiáceos leves, como tramadol, podem ser considerados para o tratamento da FM, porém não devem ser prescritos como medicação de primeira linha para fibromialgia. Referente ao uso de opiáceos potentes e corticosteroides esses não estão indicados(21).

Outra droga estudada no tratamento da FM são os neuromoduladores, gabapentina e pregabalina, sendo que a última apresenta expressiva eficácia em reduzir a dor nos pacientes fibromiálgicos, sendo preconizada pelo FDA (Food and Drug Administration) como a primeira droga com indicação para o tratamento medicamentoso da fibromialgia(21,19).

Portanto, o tratamento da fibromialgia requer uma boa participação do paciente, no sentido de assumir uma postura ativa em relação a sua doença, mudando seus hábitos de vida, praticando esportes e recebendo orientação medicamentosa pelo médico assistente.




Bibliografia
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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

É A HORA, É A VEZ!!! SEMANA DE COMBATE À DOR, REALIZADO PELA SBED. NÃO ADIANTA RECLAMAR, TEM QUE PARTICIPAR!!!





A SBED - Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor fará a Semana do Combate à Dor, de 17 a 21 de novembro de 2014, com exposição no Espaço Mário Covas, Anexo II da Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional, em Brasília/DF. O evento é gratuito e aberto ao público. 

Para participar desta campanha, além de visitar a exposição em Brasília, tanto profissionais da saúde como pacientes podem enviar mensagens aos governantes e parlamentares, dar depoimentos descrevendo as necessidades e dificuldades que enfrentam, disseminar a campanha entre os amigos nas redes sociais, mobilizar eventos por meio das entidades de saúde que participam, divulgando assim a importância da questão da dor no Brasil.

Então vamos começar esta campanha...  


Faça uma mensagem padrão, e só copie e cole na hora de enviar. É mais rápido e menos a digitar.

VAMOS ENVIAR MILHARES E MILHARES DE MENSAGENS ... VAMOS FALAR COM:

Deputados Federais:  http://www2.camara.leg.br/participe/fale-conosco/fale-com-o-deputado

Senadoreshttp://www.senado.gov.br/senado/alosenado/default.asp?s=fs&area=internet&a=f

Presidênciahttps://sistema.planalto.gov.br/falepr2/index.php

A Abrafibro - Assoc. Bras. dos Fibromiálgicos não poderia ficar de fora. Sua participação é FUNDAMENTAL

Envie... envie... envie... divulgue, divulgue, divulgue....





Dor que não cessa

Alterações na transmissão neural dos sinais dolorosos estão na base da fibromialgia, mas traços de personalidade, traumas e stress crônico ajudam a deflagrar a síndrome que afeta principalmente as mulheres


“Afinal de contas, o que eu tenho, doutor?” Durante muitos anos essa foi uma pergunta sem resposta para a advogada Sandra Kaufmann, 55 anos, que nos últimos 20 anos visitou dezenas de consultórios médicos em busca de um diagnóstico para suas dores crônicas e generalizadas. Na verdade, recebeu vários, até mesmo o de hipocondria, úlcera do estômago e acidente vascular cerebral. E não raras foram as vezes em que os médicos, depois de pedirem baterias de exames, concluíram que sua dor era “psicológica”. 

Os sintomas de Sandra começaram depois do nascimento do terceiro filho: dores difusas e intermitentes em diferentes partes do corpo que, com o tempo, foram se tornando tão intensas que a impediram de trabalhar regularmente. Hoje ela tem um diagnóstico: fibromialgia – o que não significa que suas perguntas foram respondidas.



Por ser uma doença difícil de ser detectada e pouco conhecida, seus dados epidemiológicos fornecem uma idéia ainda imprecisa do quadro. Estudos feitos nos Estados Unidos e na Europa indicam que a doença afeta quase 6% dos pacientes dos consultórios de clínica geral, até 8% dos que se encontram hospitalizados e cerca de 20% das pessoas atendidas por reumatologistas. O problema predomina em mulheres (de 80% a 90% dos casos) com idade entre 30 e 60 anos, embora possa se manifestar também em crianças, adolescentes e idosos. Curiosamente, é mais comum nos estratos sociais e educacionais mais altos.

HIPERSENSÍVEIS

Como não se conhecem as causas da fibromialgia, os especialistas preferem chamá-la de síndrome. Além da dor generalizada, os principais sintomas são fadiga crônica, perturbações do sono, enxaqueca e aumento da sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa. Alterações de humor, dificuldade de concentração e cólicas menstruais intensas também são comuns. Apesar de tudo isso, não existe um só exame laboratorial ou de imagem capaz de ajudar o médico no diagnóstico, que depende totalmente do seu faro clínico – razão pela qual não são raros os que não dão a devida importância às queixas das pacientes.  Sandra é um exemplo disso. Ela viveu na pele as conseqüências da desinformação médica. “A pior coisa é você estar com o corpo doendo e o médico dizer que é efeito do stress, que eu só precisava de férias”, diz.
Negligenciada por décadas, a fibromialgia começou a ser estudada sistematicamente no fim dos anos 80 e não tardou muito para que os cientistas percebessem alterações nos mecanismos da dor. Estudos mostram que não há nada errado com o corpo dessas mulheres; o problema está no sistema nervoso central. Umas das primeiras evidências vieram da Universidade de Heidelberg, quando o neurobiólogo Siegfried Mense conseguiu induzir em ratos um conjunto de sintomas muito semelhantes do quadro fibromiálgico. Para isso ele inibiu, por meio de resfriamento, a transmissão dos sinais de dor conduzidos pela medula espinhal. Esperava-se que a sensibilidade fosse completamente inibida, mas não foi isso que aconteceu; os roedores ainda sentiam alguma coisa e continuavam se esquivando dos estímulos dolorosos. 
Hoje a idéia mais aceita é a de que a fibromialgia está relacionada a uma maior sensibilidade ou, mais precisamente, a uma redução do limiar a partir do qual um estímulo é capaz de acionar os receptores de dor, que enviam esse sinal ao cérebro, o qual, por sua vez, interpreta a informação como um “Ai!”. 
Estudos conduzidos pelo médico Zoltan Gerevich, da Universidade de Leipzig, mostram que o fenômeno tem como base alterações bioquímicas nos nervos periféricos que chegam à medula espinhal. Neles, determinadas moléculas receptoras regulam, em condições normais, a liberação do neurotransmissor glutamato, cujo efeito é a inibição da transmissão do sinal doloroso. Na ausência desses receptores, porém, sente-se uma dor difusa que parece ter origem nos músculos, ossos e tendões.

No entanto, a curiosidade dos cientistas não se deteve na medula e avançou para dentro do crânio com a ajuda da ressonância magnética funcional (fMRI). As imagens revelaram que o córtex sensorial primário – que recebe os sinais de tato e dor – é mais sensível aos estímulos periféricos nos pacientes com fibromialgia. Mais recentemente, uma revisão feita pela equipe do médico Richard Harris, da Universidade de Michigan, confirmou que, nesses pacientes, tanto as estruturas que transmitem quanto as que codificam a dor estão hiperativas. A genética estaria entre os principais fatores predisponentes, e aspectos emocionais estão, sem dúvida, envolvidos no desencadeamento do distúrbio, segundo os autores.

AUTOCRÍTICA

Depois de muita fisioterapia e diversos medicamentos, que sempre trouxeram alívio por tempo limitado, Sandra começou a fazer psicoterapia em grupo no laboratório de fibromialgia coordenado pelo médico Ulrich Egle, da Universidade de Mainz. Ao lado de oito pacientes ela participou dos debates e dos exercícios que tinham um objetivo específico: lidar melhor com as próprias emoções. Antes de começar a oferecer a psicoterapia, a hipótese de Egle era que as pessoas com essa síndrome poderiam ter passado por experiências traumáticas na infância, como violência física ou negligência. À medida que os grupos se sucederam, sua ideia foi confirmada e ele percebeu que quase todos os pacientes justificavam seu problema como algo “herdado” da família. Isso poderia explicar, segundo o pesquisador, por que a fibromialgia afeta mais as mulheres, uma vez que elas estariam mais expostas que os homens a traumas infantis. Além disso, o ciclo hormonal também poderia contribuir para a oscilação emocional e a susceptibilidade ao stress.

Há ainda outras características comuns nas mulheres com fibromialgia. “Baixa auto-estima, perfeccionismo, autocrítica severa e busca obsessiva do detalhe compõem o perfil psicológico dessas pacientes”, conta Egle. É muito freqüente ouvir delas que as dores começaram após eventos radicais ou repentinos, como desemprego, morte na família e separação.

Outro aspecto que intriga os especialistas é a relação entre fibromialgia e distúrbios do sono. Ninguém sabe o que é causa e o que é consequência. “A maioria dos pacientes diz que dorme mal por causa das dores”, diz o reumatologista Michal Späth, da Universidade de Munique. “Em contrapartida, o tratamento dos distúrbios do sono geralmente traz alívio considerável para os outros sintomas.” 

A fibromialgia geralmente está associada a alterações no estágio 4 do sono de ondas lentas, também conhecido como não-REM, o que se reflete num sono superficial e não restaurador, conforme relatam os pacientes. Experimentos com voluntários nos quais foi induzida privação desse estágio acarretaram fadiga crônica e dores generalizadas. Späth alerta, porém, para o fato de que até 50% das suspeitas de fibromialgia não se confirmam. Isso porque pessoas submetidas a stress crônico parecem desenvolver sintomas semelhantes aos da síndrome, os quais se manifestam ou se intensificam justamente na hora de dormir. 

Psicoterapia

Medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios raramente fazem efeito. As drogas de escolha costumam ser os antidepressivos, mas sua eficácia só é percebida em parte das pessoas em tratamento. Späth não abre mão da psicoterapia para seus pacientes e dá mais atenção ao lado emocional do que propriamente aos sintomas físicos. Entretanto, o reumatologista vê limitações na eficácia de métodos alternativos, como banhos com água quente e fria, acupuntura e massagem. “Embora tragam algum alívio, os resultados não se mantêm a longo prazo”, afirma. Sandra, por exemplo, é tratada com acupuntura há dois anos, mas reconhece que os efeitos já não são tão bons quanto no início. 

O fato é que, apesar dos avanços nas pesquisas sobre essa síndrome nos últimos 20 anos, ninguém tem uma ideia clara sobre suas origens. Para alguns cientistas, o distúrbio do sono é mais causa do que consequência. Outros acreditam que a fibromialgia seja deflagrada por uma infecção viral ou bacteriana, ou por alguma lesão na região superior da medula espinhal. Algumas pesquisas investigam possíveis anormalidades no sistema nervoso autônomo e no metabolismo muscular desses pacientes. 


Já os resultados da terapia em Mainz parecem promissores. De 80 participantes, dois terços reconhecem os benefícios do tratamento e metade ficou quase um ano praticamente livre das dores. Sandra está no grupo dos aliviados: “Antes, quando eu me irritava com as crianças, sentia aquela dor forte, como um puxão”, recorda. “Hoje vivo muito mais relaxada.” Desde então ela voltou a trabalhar meio período, o que melhorou muito sua qualidade de vida e seu relacionamento com a família. Além disso, agora ela consegue enfrentar os problemas do dia-a-dia com mais serenidade, sem se deixar irritar pelas pequenas adversidades. O marido e os filhos são testemunhas da lenta transformação: antes Sandra não suportava ver qualquer coisa suja na pia da cozinha e cobrava deles mais disciplina. Hoje esse tipo de situação já quase não lhe dói mais. 


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

DOR - CENTRO DE GESTÃO EM SAÚDE

DOR!

Quem nunca usou essa palavra?
Será que realmente sabe dizer como ela acontece, como se processa em nosso cérebro, se é possível controlá-la?
E o que a ciência anda fazendo para benefício dos pacientes com dores crônicas?
A ciência explica!




quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dor – o quinto sinal vital


Dor – o quinto sinal vital



É com um misto de felicidade e cautela que venho acompanhando as notícias sobre tratamento da dor depois da decisão do Conselho Federal de Medicina de tornar a medicina da dor uma especialidade.
Indubitavelmente um avanço importante para a classe de médicos intervencionistas e para milhares de pessoas que poderão se beneficiar no futuro quando estes novos profissionais de dor forem treinados.
Haja visto que, há mais de dez anos a Sociedade Americana de Dor declarou a avaliação da dor o quinto sinal vital, colocando-o no mesmo patamar da temperatura corporal, pressão arterial, pulso e respiração, aqui no Brasil ainda caminhamos a passos lentos para a universalização do alívio da dor em nossos serviços de atendimento à saúde. Quantos são os médicos que utilizam a Escala Visual Numérica, a mais simples, para avaliar a dor quando presta assistência ao paciente?
Vamos conhecer um pouco mais a história da questão. Em 1995, a Associação Médica Mundial sobre os Direitos dos Pacientes emitiu a Declaração de Lisboa falando do Direito à Dignidade, do Direito a não ter Dor. Um ano mais tarde nos EUA foi preconizada e regulamentada como o quinto sinal por proposta da Sociedade Americana de Dor. Tornou-se lei o direito de todos os pacientes serem assistidos na dor.
E assim como o quinto sinal vital, não basta reconhecer mais um especialidade e parar por aí.
É preciso, acima de tudo, fazer valer esse direito universal do paciente de ser assistido na sua dor, concretizando-o no nosso país mediante a implementação de uma legislação abrangente. É preciso que os planos de saúde reconheçam isso e que ofereçam cobertura para terapias de dor.
Ao contrário do que muitos pensam, tratar a dor não é dinheiro jogado fora; é dinheiro público que seria destinado à promoção de saúde ao invés de gastos com tratamento de dor curativo. E nas empresas privadas, oferecer tratamento de dor para seus funcionários significa um ganho no final do dia no que diz respeito ao absenteísmo e o custo que gera para uma empresa.
Cito dois exemplos: 1) o paciente pós-cirúrgico. Se for tratado para dor antes de sentí-lo, teria muito mais efeito e demandaria muito menos recursos do que se for tratado quando a dor se instalar, além de poupá-lo de sofrimento psicológico desnecessário; 2) o funcionário administrativo que sente dores todos os dias por ficar sentado muitas horas numa mesma posição. Com o tempo esta dor se torna crônica e o tratamento de um funcionário doente custará mais do que a prevenção praticada logo no início.
É preciso que o colega médico abrace esse novo conceito da dor, preconizado mais de uma década atrás. Há muito ainda a ser feito nas escolas de medicina na formação do médico, imbuíndo-o desde então com o conceito de tratamento preventivo de dor, não meramente curativo.
Pacientes também têm de ser instruídos com relação à sua participação ativa no tratamento de sua dor, e no processo adquirir novas formas de encarar a dor. Na formulação de um plano de tratamento, o médico precisa levar em conta o sistema de valores/crenças individuais. Cada paciente tem de tomar uma postura participativa no seu tratamento, não somente seguir instruções passivamente.
Nas últimas semanas, revistas de renome publicaram especiais sobre o assunto, que é a bola da vez. Acho excelente, como disse na semana passada, e penso que agora a dor está tendo o destaque que sempre mereceu; no entanto, explicações sobre dor e diagnósticos à parte, há muito ainda a ser dito sobre o arsenal de terapias minimamente invasivas disponíveis em centros de dor, como por exemplo a radiofrequência pulsada e convencional, sobre como funciona uma equipe interdisciplinar e a importância disso para o paciente.
Tudo isso remete a dez anos atrás, na época em que eu e meu parceiro Dr. Fabrício Dias Assis começamos a nossa jornada na dor, muitos encaravam a área com ceticismo; mas, por nenhum momento paramos de acreditar que um dia o controle da dor teria o destaque que está tendo hoje. Trabalhamos duro aqui no Brasil, e no estrangeiro, para disseminar as inovações e as técnicas minimamente invasivas, aprendendo com uns, ensinando a outros, compartilhando com mais alguns. Em 2009, junto com Dr. Carlos Tucci, montamos nosso centro de dor, Singular, em Campinas.
Levou dez anos para a área ser reconhecida como especialidade. Assim como naquela época acreditamos no crescente sucesso da nossa especialidade, seguimos hoje na crença de que um dia ainda veremos o quinto sinal vital ser levado tão a sério quanto os outros quatro.
E nessa nota termino. Que não haja somente um tratamento superficial da dor em todos os sentidos. Que o público reivindique esse direito, que meus colegas profissionais de saúde exijam que seja aplicado, e que os pacientes que sofrem as dores, em cada canto do Brasil, tenham o direito ao alívio da sua dor.

Sobre o autor: Doutor Charles Oliveira
títulos e afiliações
Anestesiologista (1996) e médico intervencionista da Dor, com certificado na área de atuação em dor pela Associação Médica Brasileira (2002).
Fellow of Interventional Pain Practice -WIP (World Institute of Pain)(1997)
Membro da American Society of Interventional Pain Practice (ASIPP)
Membro do Grupo de Intervencionismo de Dor do Hospital Israelita Albert Einstein.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

ATIVIDADE FÍSICA - É DIFÍCIL? MAS É PRECISO!







Alongar os músculos pode ser a solução para pacientes que possuem fibromialgia - conjunto de sintomas que envolvem dores musculares e problemas psicológicos. Esse tipo de atividade mostrou maior eficiência na diminuição da dor e na melhora de outros sintomas, como a ansiedade, em comparação ao condicionamento físico.

"Porém, fatores como a facilidade de desenvolver os exercícios de alongamento em casa podem ter influenciado os resultados", ressalta a professora Amélia Pasqual Marques, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina da USP, que coordenou o aspecto fisioterápico dessa pesquisa.





A fibromialgia atinge geralmente mulheres com idade entre 35 e 60 anos. Os portadores do problema apresentam dor crônica por mais de três meses, fadiga, falta de sono e 18 pontos mais doloridos espalhados pelo corpo, além de ansiedade e depressão.

A pesquisa, realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, envolveu 19 pacientes de ambos os sexos que foram divididos em dois grupos. "O condicionamento físico foi administrado em 7 pacientes e os outros 12 foram tratados com alongamento", conta Amélia. Cada grupo realizou 10 sessões e não houve interferência quanto à medicação dos pacientes. A pesquisadora alerta, no entanto, que os resultados são parciais e que ainda existem dados estatísticos sendo analisados.




O grupo de pacientes que realizou exercícios de alongamento apresentou uma melhora considerável em aspectos como qualidade do sono, que melhorou aproximadamente 50% , redução de 48% da rigidez dos músculos, e diminuição de 30% nos níveis de ansiedade. Já as dores sentidas diminuíram 25%.Os exercícios de alongamento propostos, todos simples de serem executados, trabalhavam a coluna cervical e lombar e os movimentos da pélvis - regiões onde costuma haver grande incidência de dor.Entre os pacientes que participaram do condicionamento físico (caminhada e corrida em esteira) a melhora dos sintomas não foi significativa. "Talvez esses resultados não tenham sido tão bons devido ao maior esforço exigido pelo condicionamento ou porque as pessoas se sintam mais protegidas no alongamento, que é feito no solo", analisa a professora. A caminhada, comparada ao alongamento, exige movimentos mais velozes, repetitivos e com maior carga.




Importância da atividadeAmélia ressalta a importância do alongamento para quem tem dor. "Além dos resultados, podem ser feitos em casa facilmente", comenta a professora. Ela lembra, no entanto que o mais importante é fazer alguma atividade física, mesmo que não seja o alongamento. "Outro cuidado que deve ser tomado é para que não se excedam os limites e os pacientes saiam com dor muscular", diz.A interação com o paciente, nesse tipo de pesquisa, é grande.

Ele recebe informações sobre como fazer os exercícios em casa, além de ser bem orientado sobre sua doença, o que ajuda nos resultados positivos. "Eles chegam muito desanimados no início do tratamento.

Nós tentamos mostrar que não é porque alguém disse que o seu problema não tem cura que ele não pode ser controlado e damos como exemplo a dor de cabeça", explica a professora.

"Eles também desenvolvem uma percepção corporal maior".Para Amélia, o paciente começa a mudar ao conhecer novas possibilidades. Com o maior desenvolvimento da consciência corporal, por exemplo, muitos deles começam a perceber o que desencadeia neles as crises de dor. Muitas pessoas podem ter tendência à fibromialgia, mas nunca desenvolver uma crise, mantendo isso controlado.

Atualmente a professora vem desenvolvendo uma outra pesquisa, com 40 pacientes, sobre alongamento e fibromialgia - que deve confirmar os resultados obtidos para um número maior de pessoas. Amélia também estudou a prevalência da fibromialgia na população de Embu-SP e agora estuda a prevalência da doença na população idosa.



Fonte: Agencia USP, 11/05/2006.


Eu sugiro a visita a alguns sites:


http://academia-caraguatraining.blogspot.com/2007/06/perguntas-e-respostas-mais-freqentes-em_69.html - Em entrevista com o Dr. Eduardo Paiva, reumatologista do HC do Paraná, especialista em Fibromialgia- Perguntas e Respostas mais frequentes sobre a Fibromialgia.

Um trecho da entrevista, onde Dr. Eduardo Paiva explica o por quê da necessidade de atividade física para o fibromiálgico...
"...Exercícios: Esse é o ponto mais importante do tratamento. Costumo dizer que a pessoa com fibromialgia não pode se dar ao luxo de não se exercitar. A atividade física regular é o único tratamento capaz de restaurar a pessoa para uma vida normal. ... A atividade física deve ser realizada todos os dias de duas maneiras: um exercício que mexa todo o corpo (aeróbico) como nadar, caminhar, correr ou praticar hidroginástica, e exercícios que promovam o alongamento muscular. Os exercícios devem ser iniciados lentamente, e só depois de algum tempo é que se deve chegar ao tempo total: trinta minutos por dia. Mesmo que depois que o paciente chegue a esse nível de exercícios, pode haver uma demora de até um ano para que os benefícios comecem a aparecer. Por isso quanto mais cedo se começar a atividade física, melhor..."
O blog acima citado tem o inteiro teor da entrevista... que a meu ver deveria ser lido por todos(as). Eu garanto que ali ele responde a perguntas realmente frequentes entre os fibromiálgicos.
Comente depois, ok?